O que estou fazendo?

    follow me on Twitter

    sexta-feira, 3 de abril de 2009

    Nunca negocie com o mágico

    Sempre é sucesso quando conto esta história, resolvi dividir com meus (3?) leitores aqui no blog.

    O ano era 2006, fui até a rua Teodoro Sampaio, em Sampa, pra comprar um par de baquetas junto com um amigo, aqui descrito como Tiago Brandão para poupar sua identidade.
    Andando tranquilos pela rua, fomos abordados por um tipo Chileno/Boliviano/Peruano que trazia algo em suas mãos. Com um sotaque muito forte, ele dizia:

    - Hola, como vai? Tengo aqui uma câmera digital que comprei, e preciso mucho vender para comprar la passagem para Bolívia, me ajuda! Compra a câmera!

    Então nos mostrou a câmera, uma Cybershot preta, último modelo. Nossos olhos brilharam, e nem nos veio na cabeça a pergunta de como um Chileno usando pele de lhama, sem um puto no bolso, tinha conseguido comprar uma câmera que custava mais de 1.500 reais. Ele disse que nos venderia por 400 reais, mas se tivessemos 350, a câmera era nossa. Eu não tinha 350 reais no bolso naquele instante, se fosse o Silvio Santos, já teria pegado a grana na hora.

    Dissemos que não tinhamos a grana, e ele insistiu: Ligou a câmera, e começou a tirar fotos da gente, mostrando como funcianava bem o aparelho. Confesso que até dei um sorrisinho em uma das fotos, mas mesmo assim, mantive minha resposta. Entramos em uma loja, comprei as baquetas, e já íamos embora para o metrô, quando o cara apareceu denovo, desta vez com uma oferta de 200 reais! Parecia aquele cara da TV querendo empurrar a TekPix...então o meu instinto negociador veio à tona. Disse que podia dar 100 reais pro cara. Ele relutou, disse que 200 era o mínimo, fingiu que ia embora, deu uma olhadinha pra trás e perguntou: "Tá com los 100 aí?" Cego pela possibilidade de comprar a câmera por míseros 100 reais, pedi pra ele aguardar com o Tiago alí na rua, que eu ia correr até o caixa eletrônico pra sacar a grana.

    Quando voltei, lá estava ele esperando. Viu a grana na minha mão, pegou a cãmera, me mostrou que estava tudo ok, embrulhou-a num plástico preto, e antes de me entregar, me disse pra eu pegar a câmera e ir embora rápido, pois segundo ele, tinha gente no quarteirão de cima que estava de olho na câmera, e corríamos perigo. Me senti o próprio Jack bauer, era o maior nível de ação que eu já havia enfrentado desde o dia em que me perdi na favela do Heliópolis (isso é outra hisória). Peguei o embrulho, enfiei na mochila, dei um Muchas Gracias, e subimos a rua direto pro metrô. Eu estava maravilhado pelo ótimo negócio, e não via a hora de entrar no vagão pra poder abrir a mochila.

    Entramos, sentamos, e eu abri a mochila, peguei a câmera e comecei a desembrulhar. Achei algo estranho, por que conforme eu desembrulhava o plástico - que estava muito bem embrulhado por sinal, vi que a câmera estava perfeitamente embalada em um jornal. Não lembrava do Boliviano gordo ter embrulhado nada num jornal. Quando rasguei o papel, para a minha estarrecedora surpresa, não havia câmera nenhuma, mas sim um bloco de sabão daqueles caseiros, cortado perfeitamente no tamanho da câmera!!!

    Eu peguei aquilo na mão, e tive uma sensação diferente de qualquer outra que já tenha tido. Era um misto de surpresa, frustração, admiração pela destreza do cara, e vontade de rir de mim mesmo. Não posso dizer que fiquei com raiva dele, por que não fiquei! Simplesmente não tive reação nenhuma a não ser embrulhar o sabão denovo, olhar pra cara do Tiago - que também estava em choque, coloquei o sabão debaixo do banco do metrô, e não dissemos nenhuma palavra um ao outro. 5 estações adiante, meu amigo levantou, olhou pra mim e disse "Relaxa. Eu não falo pra ninguém." e saiu do vagão.

    Sem dúvida, era o sabão mais caro que eu já tinha comprado em toda a minha vida.
    Fui pra casa pensando nisso o caminho inteiro, e cheguei a uma conclusão: Eu poderia estar puto da vida se um fulano chegasse com uma arma e levasse minha carteira. Poderia estar louco de raiva se alguém enfiasse a mão no meu bolso e saísse correndo com meu dinheiro, mas não, com o Boliviano não. Ele mereceu a grana. Treinou seu golpe até conseguir transformá-lo em uma arte, e apresentou um belo truque de mágica pra mim. Um truque sublime e perfeito, que valeu cada centavo.

    Seria bom se todo roubo fosse assim. Imagine que bacana: Um representante do governo vai até a sua casa, coloca seu salário numa caixa, cobre com um paninho, fala a palavra mágica, tira o paninho de cima, e ZAZ! 30% da sua grana sumiu, e você não tem nem idéia de pra onde ela foi!

    3 comentários:

    1. Abracadabra! Hocus Pocus! Sim Salabim...

      Tudo é treino nessa vida...garanto q o latino q te roubou já vendeu muito sabão por bem mais que 100 mango!

      ResponderExcluir
    2. Cara, esse caso realmente foi do Peru, ou da Bolívia, Chile, sei lá.
      É uma coisa estranha, no fundo nós sabemos que estamos sendo enganados, que tem alguma coisa errada, que alguém está levando vantagem sobre nós, mas a oportunidade parece ser tão boa que não há como negar.
      Igual quando te liga alguém vendendo algum plao telefônico, é óbvio que o cara não tá falando totalmente a verdade, mas a proposta é sempre tentadora.

      ResponderExcluir
    3. hauhauahuaahuahauahauaha
      quando vc me contou essa na Facu, foi um dos dias que mais dei risada da sua cara...melhor do q a semana q te conheci q vc tinha sido atropelado, indo de bike pra facu....hahahhahahhahahahha!

      ResponderExcluir